domingo, 18 de agosto de 2013

Formação

* O homem moderno busca a religião para “se sentir bem”, não para encontrar a VERDADE e por ela se deixar transformar.


Fábio Blanco – advogado e teólogo.
A religião ideal para a modernidade é áfona, retraída, irrelevante.
No fim, são os antirreligiosos que assumem o papel de profetas, de pregadores, de donos da verdade.


Esperar moderação de um religioso é negar-lhe o que ele possui de mais característico: a posse de uma cosmovisão totalizante. O que é uma religião senão uma explicação da existência, do universo e das razões últimas das coisas? E se explica tudo, tudo abarca. Nada, dessa forma, se encontra fora do seu campo de interesse, nada deixa de ser penetrado por ela. Por isso, não existe laicidade para o religioso, já que nada se encontra separado de sua fé. Sendo assim, buscará “impor” o que acredita ser o melhor para todos. E se o melhor se encontra no que sua própria religião ensina, é em favor disso que lutará.

E antes que os apóstolos deste século reclamem dessa impostura beata, saibam que nem mesmo os maiores adeptos da laicização escapam desse desejo de a todos impor o que acreditam. Os valores podem ser diferentes, mas o objetivo é o mesmo. Ninguém que atua em jogos políticos faz isso para ver os interesses dos outros aplicados. Cada um busca impor seus próprios interesses. Se puderem, farão que todos aceitem suas ideias.  Se não puderem, aguardarão o momento certo de fazer isso. Pensando dessa maneira, qual a diferença entre abortistas que requerem o chamado direito de escolha e fiéis que lutam pelo direito à vida? Em termos práticos de política, nenhuma. Todos buscam impor suas convicções. E para isso existe a política.
Quando um religioso atua politicamente, o mínimo que se espera dele é que tente impor seus valores também. Seria até injusto, enquanto todos lutam para verem suas convicções aplicadas, apenas o religioso não poder fazer isso. Ele, sem ferir a liberdade comum, deve lutar até o fim para aquilo que ele acredita ser o melhor, aquilo que representa o bem, seja recepcionado pelas normas de seu país. O religioso, em sua atuação política, não faz nada diferente de ninguém. O que ele busca é o que todos buscam: a imposição de regras para uma sociedade melhor. O problema é que cada um tem a sociedade ideal segundo suas próprias convicções.
Portanto, quando alguns atores políticos esperneiam contra os religiosos na política, fazem isso apenas como tática para desmoralizá-los, para afastá-los do jogo e, por fim, acabar impondo suas próprias ideias. Na verdade, eles sabem que suas próprias atuações em nada diferem da dos pastores e leigos  que publicamente se movem no mundo da política. Teoricamente, todos estão trabalhando por uma sociedade melhor, segundo suas próprias convicções do que é melhor.
Por que um religioso afirmar que aborto é crime se torna uma imposição sufocante e afirmar que afirmar isso é crime não é? São duas faces da mesma moeda. São duas visões que lutam para se impor. Por que, então, apenas o religioso é visto como um louco fascista tentando enfiar goela abaixo suas convicções? Na verdade, todos querem fazer isso, e se não fazem é apenas porque não conseguem.
Porém, de alguma maneira, eu compreendo porque as coisas acontecem desse jeito. Lembremos que vivemos em um mundo moderno. Neste mundo moderno, a religião também é moderna. Sendo moderna, seu papel é ser uma opção, não uma explicação. O homem moderno busca a religião para se sentir bem, não para saber a verdade.
A religião moderna é, com efeito, uma mera expressão da subjetividade. Não trata de valores universais, de uma explicação da existência. Religião é apenas um refúgio, para o homem moderno se esconder de vez em quando, aliviando as tensões acumuladas em sua vida laica.
Essa é a religião que eles querem, a religião de uma Nova Ordem: sem vocação política, sem soluções para os homens. A religião ideal para a modernidade é áfona, retraída, irrelevante.
No fim, são os antirreligiosos que assumem o papel de profetas, de pregadores, de donos da verdade. São eles que se apresentam como os portadores das virtudes que devem ser impostas a todos. São eles que sabem o que é melhor para o mundo. Eles são os promotores do bem.
E o que eles esperam da religião é que ela seja uma expressão de fé tão íntima e tão pessoal que não tenha capacidade de oferecer qualquer resposta aos problemas da sociedade. Na verdade, querem que ela seja apenas morna, talvez para que, no fim, seja vomitada pelo seu próprio Deus.

Fonte: Comunidade Católica Shalom

Games violentos: Qual a postura cristã diante disso?


Em boa parte dos games há violência, de uma forma ou outra. Existe o inimigo, e é preciso acabar com ele, seja matando extraterrestres, o exército vizinho… Evidentemente, a possível preocupação não tem a ver com os danos reais causados, pois estes não existem: tudo é virtual, nada é real.A preocupação tem mais a ver com o efeito da incitação à violência, sobretudo nos mais jovens.
Parte-se da ideia de que eles tendem a imitar o que veem, sobretudo quando, como nos games, não só veem, mas também atuam. No entanto, resolver a questão aceitando isso sem mais e desaprovando esses jogos é uma simplificação bem menos realista do que pode parecer.
Se voltarmos atrás, antes da revolução informática, o que as crianças liam tampouco era pacífico: desde contos em que se devia acabar com o dragão, passando por quadrinhos de façanhas bélicas, até livros com episódios violentos.Isso criou uma geraçãoviolenta? Na verdade não. O fator que aumentou os índices de violência na sociedade foram as drogas.

O equívoco radica na consideração da própria violência. Hoje está na moda pensar que toda violência é imoral, mas não é assim. Goste-se ou não, a violência – medida, controlada, mas apenas a imprescindível – se faz necessáriacomo último recurso para restaurar a justiça e a ordem social. Se não fosse assim, não haveria polícia nem presídio.

O que ocorre com os games? Há que saber distinguir. O herói não é o mesmo que o sádico. Então há que se avaliar e descartar como inconvenientes alguns jogos:os que fazem uso recreativo da violência ou, pior ainda, da crueldade; os que convocam a uma violência gratuita ou, pior, injusta.

O restante é inofensivo? Nem tudo. Acontece com isso – na realidade o fenômeno é o mesmo – algo parecido com o Dom Quixote em relação aos chamados romances de cavalaria. Eles podiam prender a atenção de uma forma que o leitor não vivesse para outra coisa a não ser deixar a imaginação voar com eles. Ou seja, há o risco do vício. Com a maioria dos games este é o perigo real, por isso eles requerem um uso moderado e uma educação que ensine a utilizá-los com temperança (isso vale para as crianças, os jovens e os adultos). Coisa que não é fácil.

Fonte: Comunidade Católica Shalom